Etanol de Milho: prospera no Brasil? 

Quando se fala em etanol de milho, o entusiasmo costuma vir antes da planilha. Muitos veem o modelo como diversificação inteligente e uso vertical do agro. Mas quem lida com CAPEX, fluxo descontado e retorno de LPs precisa mudar o tom. Vamos aos fatos, sem verniz.

Hoje, o milho vale R$ 80 por saca de 60 kg — cerca de R$ 1.333/t ou US$ 222/t. Com uma planta de 1 milhão de t/ano, o custo da matéria-prima chega a US$ 222 milhões/ano. Isso já pressiona fortemente a margem.

Agora, veja o que se entrega.

O etanol, foco do projeto, gera 420.000 m³/ano. A US$ 450/m³, são US$ 189 milhões de receita bruta. Ou seja: a venda do etanol nem cobre o custo do milho. Isso não é margem apertada — é modelo deficitário.

Os subprodutos — DDGS, óleo e CO₂ — somam US$ 64,6 milhões/ano. Junto ao etanol, a receita total chega a US$ 253,6 milhões. Mas o custo (milho + OPEX de US$ 24 milhões) alcança US$ 246 milhões. Resultado: margem operacional antes da depreciação de US$ 7,6 milhões.

Com depreciação de US$ 16,6 milhões/ano (em 15 anos), o projeto fica negativo por mais de uma década. Mesmo depois, o caixa gerado é tão modesto que o investimento de US$ 250 milhões só se paga em 69 anos. Isso não é negócio — é alerta.

Aqui, a matéria-prima inviabiliza o projeto. E a crítica é clara: investimento é matemática, não discurso. Não adianta citar produção integrada, sustentabilidade ou carbono evitado. Se a equação não fecha, o discurso não se sustenta. É isso que mata a planta.

Muitos apontam os EUA como benchmark — um erro conceitual. O modelo americano se viabiliza por 4 fatores: moeda forte, energia barata, logística eficiente e menor custo de impostos que o Brasil. A realidade industrial dos EUA é incompatível com a brasileira. Copiar o modelo sem ajustar os fundamentos é repetir erro com convicção.

Investimento industrial exige três pilares: custo previsível, receita estável e payback compatível com o risco. Este projeto falha nos três. O milho é imprevisível, o etanol sofre com excedente e o retorno financeiro é inviável. Projetos assim não deveriam passar nem do FEL 2.

Para viabilizar o modelo, será preciso contratos longos com trava no milho, price floor para o etanol ou ganhos de eficiência ainda não comprovados. Caso contrário, cada planta será um monumento à falta de rigor na análise de investimentos.

Enquanto isso, o etanol de cana seguirá imbatível no Brasil. Com menor custo, logística integrada e décadas de maturidade, continuará dominando o mercado nacional. Ignorar essa vantagem é esquecer que, em investimento, o melhor projeto não é o mais ousado — é o que entrega resultado.

Fonte: Ricardo Xavier de Oliveira