‘Cidade de data centers’ pode gastar mais energia que 40 mi de pessoas
Um ano depois da enchente que arrasou municípios inteiros no Rio Grande do Sul, o governo do estado aposta as fichas da reconstrução em um empreendimento tecnológico bilionário que entusiasma políticos e empresários, mas preocupa técnicos e ambientalistas.
Uma “cidade de data centers”, maior complexo de infraestrutura digital da América Latina, deverá ser erguida pela empresa Scala em Eldorado do Sul, município completamente devastado pela subida das águas em maio de 2024. Os data centers abrigam servidores de armazenagem e processamento de dados — e vêm crescendo em importância com a popularização da inteligência artificia.
“É a oportunidade de transformar o Rio Grande do Sul no novo Vale do Silício no Brasil”, comemorou o secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado, Ernani Polo (PP), em outubro. O Scala AI City, como está sendo chamado o empreendimento em Eldorado do Sul, é superlativo: o investimento inicial é de R$ 3 bilhões, podendo chegar a um total de R$ 500 bilhões, segundo dados divulgados pelo governo do estado. A título de comparação, o maior investimento privado da história do Rio Grande do Sul alcançou R$ 24 bilhões: a ampliação de uma fábrica de celulose da chilena CMPC, em 2024.
Apesar do entusiasmo, o potencial impacto da atividade acende um alerta. Segundo uma lei municipal aprovada sob medida para o empreendimento, o licenciamento “se dará de forma simplificada e autodeclaratória”. Não há, ainda, regras para licenciamento ambiental de data centers na legislação estadual do Rio Grande do Sul, nem no Brasil.
O Scala AI City contará com uma “capacidade de TI” de 4,75 GW quando estiver funcionando a pleno vapor. Para se ter uma ideia, trata-se de um número superior ao da capacidade de geração da quarta maior hidrelétrica do Brasil — a usina de Jirau, uma gigante amazônica de 3,7 GW construída no rio Madeira, em Rondônia, que fornece energia elétrica para 40 milhões de pessoas.
A secretaria de Desenvolvimento Econômico do RS informou que “o Estado já levou ao governo federal a pauta que visa criar um ambiente regulatório favorável aos data centers e às questões ligadas à inteligência artificial. Caso se efetive, será uma conquista que beneficiaria todo o país”. Mas não se manifestou sobre riscos e impactos ambientais.
Fonte: Economia Uol